Cristãos de tempo bom, envergonhai-vos!


 
Por Charles H. Spurgeon
 
"Sem fé é impossível agradar a Deus" porque é impossível perseverar na santidade sem fé. Quantos cristãos de tempo bom existem em nossos dias! Muitos cristãos se parecem com náutilos, que com. tempo bom e agradável nadam na superfície do mar em pequenos cardumes muito bonitos como navios poderosos, mas assim que a primeira lufada de vento agita a água, eles recolhem as velas e submergem nas profundezas. Muitos cristãos são assim. Em boa companhia, em salas de culto evangélicas, em grupos de estudo em casa, em capelas e reuniões do conselho eles são tremendamente espirituais; porém quando são expostos a um pouco de ridículo, se alguém sorri para eles e os chama de metodistas ou presbiterianos ou algum nome depreciativo, acabou a religiosidade deles até o próximo dia de tempo bom. Então, quando tudo está bem e a religião atende a suas aspirações, lá vão eles levantar as velas, e são espirituais como antes.



Se alguém não ama a Deus, que não diga o contrário; mas se é um cristão de verdade, um seguidor de Jesus, que o diga e se garanta. Não há por que envergonhar-se disso; a única razão de se envergonhar é de ser hipócrita. Sejamos honestos naquilo que professamos, e isso será nossa glória. O que você faria sem verdadeira fé em épocas de perseguição?! Vocês, pessoas boas e consagradas que não têm fé, o que vocês fariam se a estaca fosse novamente erigida em Smithfield e novamente as chamas reduzissem os santos a cinzas? Se a torre dos lolardos fosse novamente aberta, se a tortura fosse aplicada, o tronco usado, como já foi tantas vezes na história da igreja.


Mesmo se a forma mais branda de perseguição fosse reiniciada, como as pessoas se espalhariam em todas as direções! Alguns dos pastores também abandonariam seus rebanhos. Contarei mais uma história e espero com isso levá-los a ver a necessidade da fé, enquanto me encaminho à última parte do meu discurso. Um americano dono de escravos, na ocasião de comprar mais um, disse ao mercador com quem estava barganhando:
 
— Diga-me honestamente: quais são seus defeitos? — O vendedor respondeu:


— Que eu saiba, ele tem só um defeito: ele costuma orar.



— Bem — disse o comprador, — eu não gosto disso, mas conheço algo que vai curá-lo rapidamente desse defeito.

Assim, no dia seguinte o escravo foi surpreendido por seu patrão quando orava com fervor em meio à plantação, intercedendo por este, a esposa dele e sua família. O homem ficou parado ouvindo, e não disse nada no momento; mas, na manhã seguinte, chamou-o e disse:


— Não quero brigar com você, meu homem, mas não quero que ore na minha propriedade; portanto, pare com isso.


— Patrão — respondeu este, — não consigo parar de orar; tenho que orar sempre.


— Vou ensinar você a orar se continuar com isso!


— Patrão, tenho de orar.


— Bem, vou lhe dar vinte e cinco chicotadas por dia até que você pare.


— Patrão, mesmo que me dê cinquenta, tenho de orar.


— Se é assim que você é rebelde com seu patrão, vai ter logo o que merece.


— O patrão amarrou-o no pelourinho, deu-lhe vinte e cinco chicotadas e perguntou se iria orar de novo.

— Sim, patrão, tenho de orar sempre; não consigo parar. O patrão olhou atônito; não conseguia compreender como um pobre santo podia continuar orando quando não parecia lhe fazer nenhum bem, só perseguição.

Contou à sua esposa do ocorrido. Sua esposa lhe disse:

— Por que você não pode deixar o pobre homem orar? Ele faz bem o seu trabalho; você e eu não ligamos para a oração, mas não há mal algum em deixá-lo orar, se ele cumprir com suas tarefas.


— Mas eu não gosto disso — disse o patrão. —Ele sempre me deixa muito assustado. Você devia ver como ele olha para mim.


— Ele estava com raiva?


— Não. Eu não devia me preocupar com isso, mas depois que eu o tinha surrado ele olhou para mim com lágrimas nos olhos, como se tivesse mais pena de mim do que de si mesmo.


Naquela noite o patrão não conseguiu dormir. Ele rolava na cama de um lado para outro; seus pecados lhe foram trazidos à memória, e ele se conscientizou de que tinha perseguido um santo de Deus. Sentando-se na cama, ele disse à sua esposa:


— Mulher, você poderia orar por mim?


— Eu nunca orei em toda a minha vida — ela respondeu. — Não sei orar por você.
— Estou perdido — disse ele, — se alguém não orar por mim; não posso orar por mim mesmo. —Eu não sei de ninguém aqui na propriedade que saiba orar, a não ser Cuffey, o novo escravo – disse sua esposa.

Fizeram soar a campainha, e Cuffey foi trazido.

Tomando a mão de seu servo negro, o patrão disse:

— Cuffey, você pode orar por seu patrão?
 
— Patrão, estou orando pelo senhor desde que me chicoteou, e pretendo orar sempre pelo senhor.

Cuffey caiu de joelhos e derramou sua alma em lágrimas, e ambos, marido e esposa, foram convertidos. Aquele homem não poderia ter feito isto sem fé. Sem fé ele teria ido embora na mesma hora, dizendo:
— Patrão, vou parar de orar; não quero mais o chicote do homem branco.
Mas porque ele perseverou por sua fé, o Senhor honrou-a e lhe deu a alma do seu patrão por salário.
 
Do site: charleshaddonspurgeon.com

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