O GRITO DA SOLIDÃO - Parte 2


...continuação

Ou talvez você tente esconder as coisas. Quem sabe foi sempre aquele que olha de fora do círculo e todos sabem. A sua conversa é um pouco desajeitada. Sua companhia poucas vezes solicitada. Suas roupas são desgraciosas. Sua aparência comum. Ziggy é seu herói e Charlie Brown seu mentor.


Estou atingindo o alvo? Se estou, se você concor­dou com a cabeça ou suspirou de compreensão, tenho uma mensagem importante para você.


O grito mais doloroso de solidão na história não veio de um prisioneiro, de uma viúva ou de um doente. Mas veio de uma colina, de uma cruz, de um Messias.

"Deus meu, Deus meu!" ele gritou, "Por que me desamparaste?"

Jamais as palavras contiveram tanta dor. Jamais alguém sentiu tanta solidão.

A multidão se cala quando o sacerdote recebe o bode; o bode puro, imaculado. Em sombria cerimônia ele coloca as mãos sobre o animal jovem. Enquanto o povo assiste, o sacerdote faz a sua proclamação. "Os pecados do povo estejam sobre ti." O animal inocente recebe os pecados dos israelitas. Toda a cobiça, adultério e engano são transferidos dos pecadores para esse bode, esse bode expiatório.


Ele é levado então até às extremidades do deserto e ali libertado. Banido. O pecado precisa ser purificado e o bode expiatório é assim abandonado. "Corra, bode! Corra!"
O povo fica aliviado.

O Senhor foi apaziguado.

O portador do pecado está só.
Agora, no Lugar da Caveira, o portador se acha de novo sozinho. Cada mentira contada, cada objeto cobiçado, cada promessa quebrada pesa sobre seus ombros. Ele foi feito pecado.


Deus se afasta. "Corra, bode! Corra!"

O desespero é mais escuro que o céu. Os dois que eram um são agora dois. Jesus, que estivera com Deus na eternidade, se encontra só. O Cristo, que era uma expressão de Deus, foi abandonado. A Trindade se destroçou. A Divindade se dividiu. A união foi dissol­vida.


Isso é mais do que Jesus pode suportar. Ele agüen­tou os açoites e permaneceu firme frente aos falsos julgamentos. Ele observou em silêncio a fuga dos entes queridos. Ele não revidou quando insultos lhe foram atirados nem gritou quando os pregos penetra­ram em seus pulsos.

Mas quando Deus voltou a cabeça, foi demais.

"Deus meu!" O lamento saiu de lábios ressequi­dos. O coração santo se partiu. O portador do pecado grita ao vagar pelo deserto eterno. Do silêncio do céu se ouvem as palavras gritadas por todos os que andam pelo deserto da solidão. "Por quê? Por que você me abandonou?"


Não posso compreender. Sinceramente não consi­go. Por que Jesus fez isso? Oh, eu sei, eu sei. Ouvi as respostas oficiais. "Para satisfazer a velha lei." "Para cumprir a profecia." E essas respostas estão certas. Mas há algo mais em tudo isso. Algo que fala de compaixão. Algo ansioso. Algo pessoal.

O que será?

Posso estar errado, mas continuo pensando no diário. "Sinto-me abandonada", escreveu ela. "Quem vai amar Judith Bucknell?" E fico pensando nos pais da criança morta. Ou no amigo ao lado do leito de hospital. Ou dos idosos no abrigo de velhos. Ou dos órfãos. Ou na enfermaria de cancerosos.


Fico pensando em todos que olham em desespero para os céus sombrios e clamam: "Por quê?"

E imagino a ele. Imagino quando ficou à escuta. Penso em seus olhos se embaciando e a mão ferida afastando uma lágrima. Embora não possa oferecer resposta, embora não possa resolver qualquer dilema, embora a pergunta possa congelar-se penosamente no ar, ele que também ficou certa vez sozinho, pode compreender.


Trecho do Livro: "Seu Nome é Salvador - Não é de admirar que o chamem assim" de Max Lucado
Editora Mundo Cristã

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