Por Richard Baxter
Não se contentem com um estado de graça, mas tenham cuidado também com
que suas graças sejam mantidas em exercício vigoroso e animado e que vocês
preguem a si mesmos os sermões que vocês preparam, antes de pregá-los a outros.
Eu confesso e deve dizê-lo por lamentável
experiência própria, que eu transmito ao meu rebanho os distúrbios da minha
própria alma. Quando permito que meu coração se esfrie, minha pregação é fria.
Muitas vezes posso observar no melhor do meu povo que quando minha pregação se
torna fria, eles também se esfriam. Nós somos as amas dos pequeninos de Cristo.
Se negligenciamos o nosso próprio alimento, ficaremos desnutridos e isso logo
será visível na magreza deles e no desempenho irresponsável de suas diversas
tarefas.
Ó amados, cuidem portanto dos seus próprios corações; afastem-se de
luxúrias e de paixões e de inclinações mundanas; busquem a vida de fé e de amor
e de zelo. Acima de tudo, estejam sempre em oração e meditações em secreto.
Cuidem , portanto, das suas próprias almas e das dos demais.
Cuidem de si mesmos, para que o seu exemplo
não contradiga sua doutrina; para que não se ponham tal como muro na frente de
cegos, o que pode ser a oportunidade para a ruína deles; para que o seu
procedimento não desminta o que proferem suas línguas e venha a ser o maior
obstáculo para o sucesso dos seus próprios labores.
Muito atravanca a nossa
obra quando outros homens passam toda a semana contradizendo às pobres pessoas,
em privado, o que nós lhes pregamos em público, da Palavra de Deus; mas muito maior
prejuízo para a sua obra será se houver contradição em vocês mesmos, se os seus
atos propiciarem mentira às suas línguas; e se o que vocês construírem com suas
bocas durante uma hora ou duas no domingo, depois passarem o restante da semana
a destruir com suas mãos.
Este é o caminho para fazer homens acharem que a
Palavra de Deus é nada senão uma fábula sem fundamento e tornar a pregação não
melhor que conversa sem propósito. Aquele que intenta o que fala, certamente
fará como fala. Uma palavra orgulhosa, esnobe, arrogante, uma disputa
desnecessária, um ato de inveja, pode matar um sermão, e destruir os frutos de
tudo o que vocês tenham estado a fazer.
Vocês dão tão pouca importância ao seu trabalho que não lutarão contra
uma injúria ou contra uma palavra errada, ou submeter-se ao mais humilde, nem
refrear seu orgulho próprio e palavras altivas, para ganhar almas?
É um erro
palpável de alguns ministros que fazem tal desproporção entre sua pregação e
seu modo de viver, que estudam muito sobre como pregar corretamente — e estudam
pouco, ou nada, sobre como viver corretamente. A semana inteira é pouco para
estudarem sobre como pregar durante duas horas; e todavia uma hora somente lhes
parece demais para estudar sobre como viver durante a semana.
Eles relutam, hesitam em colocar mal uma palavra em seus sermão, mas não pensam
sobre dispensar inapropriadamente as afeições, palavras e ações no decurso de
suas vidas. Oh, curioso é como tenho ouvido pregações de homens, e observado
como vivem negligentemente.
É certo, amados, que nós temos grande razão para
cuidar do que fazemos, tanto quanto do que dizemos. Se somos de fato os servos
de Cristo, não devemos ser línguas de servos somente, mas devemos servi-Lo com
todos os nossos atos. Como o nosso povo deve ser praticantes da Palavra, e não
somente ouvintes, assim também nós devemos ser praticantes da Palavra, e não
somente porta-vozes.
Cuidem-se, para que vocês não vivam nestes
pecados contra os quais vocês pregam a outros, e para que vocês não sejam
culpados daquilo que vocês diariamente condenam. Farão vocês seu trabalho de
magnificar a Deus e, estando aquela tarefa cumprida, desonra-Lo tanto quanto os
demais? Pregarão vocês sobre as leis de Deus para então, voluntariamente
quebra-las? Se os juízos de Deus são verdadeiros, por que vocês não os temem?
Se são falsos, por que então incomodam aos homens desnecessariamente e os põem
tão alarmados sem motivo?
“Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela
transgressão da lei?” (Rm 2:23). O que! A mesma língua que fala o mal, falará
também contra o mal? Julgarão e difamarão e reprovarão estes lábios ao próximo,
lábios estes que levam a cabo tal como os outros? Ó amados, é mais fácil
esconder-se no pecado do que sobrepujá-lo. Cuidem de si mesmos, sob pena de
condenar o pecado e todavia não vencê-lo.”
Fonte: monergismo.com
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